Drake é um cara como todos os outros de sua idade – 30 anos-, tem um trabalha digno de seus esforços quando mais jovem, é solteiro, não tem filhos – não que ele saiba. Mas um problema em seus olhos o torna diferente dos outros solteirões de sua idade, quando Drake tinha 6 anos, sofrera um acidente de moto com seu pai e acabara ficando quase cego, tendo somente 23% de sua visão após o ocorrido, e seu pai morrendo na hora. Apesar de sua quase cegueira ele não desistiu da vida, correu atrás de seus objetivos e esta na luta até então.
Em um certo dia, Drake acorda totalmente cego. No inicio acha que é passageiro, pois sua perda total de visão já acorrera varias vezes antes, mas depois de 15 minutos a sua pouca visão voltava. Quinze minutos se passaram e o que ele conseguia ver era só a escuridão que todo cego enxerga. Trinta minutos e nada. Uma hora, uma hora e meia, duas horas e meia, quatro horas. Drake já estava louco, esse seria seu pior sábado.
Como era feriado em sua cidade nenhum medico estava trabalhando neste dia, só o que ele podia fazer era rezar e pedir ajuda a Deus para que isso fosse passageiro. Mas mesmo com suas preces parecia que Deus não o escutara- já era de se imaginar, ele pensava; pois fazia tanto tempo que não tinha seu momento com Deus.
Resolveu então deitar-se no sofá – não era uma tarefa difícil porque desde que levantou só saiu da cama e sentou-se no mesmo onde o telefone ficava próximo. Não teve sonhos, era como se dormisse num instante e no outro acordasse.
Com dificuldade levantou-se, foi andando de vagar até a cozinha sem apoiar-se em nada, tateou tudo até encontrar a geladeira. Abriu-a e procurou algo para comer. Era uma tarefa difícil, pois não podia ler os rótulos dos alimentos.Então pensou consigo que era melhor abaixar-se até a gaveta de frutas e procurar por uma; só que tinha era um única maçã. Grande, vermelha, uma fruta que despertava um desejo incomum em qualquer um que a visse. É claro que Drake não sabia desses detalhes, só sabia que era uma maçã pois era uma de suas duas frutas preferidas.
Andando novamente, aproximou-se da pia para lavar a fruta. Percebeu que havia um leve estrago nela, mas que não fazia diferença alguma. Quando estava para dar a primeira mordida ele escuta alguém sussurrando seu nome:
-Drake.. Drake... Drake! – era uma voz calma, tranqüila, evolvente. A curiosidade o fez caminhar até a porta, demorou um pouco pois se esbarrou com a mesinha do centro de sua sala. Chegou até a porta e não a havia ninguém, ficou ali com a porta aberta por cinco minutos esperando alguém lhe responder; mas realmente ninguém estava ali.
Drake fechou a porta e voltou para a sala. Sentou-se no sofá e tomou um grande susto.
-Quem esta ai? – ele perguntou com frustração e medo.
-Olá Drake. O meu nome não importa, o que realmente importa aqui é você e sua visão- ou melhor- a escuridão que você vê agora.
-Como você sabe que estou cego?
-Eu ouvi suas preces. - seria ele Deus, pensou Drake.
-Não sou Deus, mas sou alguém com grande por quanto ele. – Drake riu, como alguém poderia ser tão poderoso quanto Deus. Isso era impossível.
-Olha, é melhor você sair da minha casa se não quiser que eu chame a policia! – Drake não estava mais achando engraçado, se aquilo fosse uma piada já estava passando dos limites.
-Não será necessário.- disse o homem misterioso. – Ouça, eu quero lhe ajudar. Você quer a minha ajuda?
-Você não pode me ajudar, a não ser que consiga me fazer voltar a enxergar o pouco que eu via antes. Você pode? – Drake não estava esperançoso, sabia que ninguém poderia fazer isso, exceto talvez um medico, ou Deus.
-Talvez eu posa!- disse o homem estranho.
-Não brinque comigo! – Drake, por um momento ficou com raiva do homem.- Para começar, como você entrou na minha casa?
-Escute, isso não importa. Você quer voltar a encher não é?
-Sim- afirmou Drake.
-Então, se isso for o seu maior desejo eu posso te ajudar. Mas, seu desejo terá um preço.- Drake percebera que o tem de voz do homem havia se modificado, estava mais tranqüilo.
-E qual é o preço? – perguntou Drake, juntando todas as suas esperanças para não ser muito caro.
-A sua alma. Eu quero a sua alma quando você desistir do seu desejo.
Drake, começou a gargalhar. Isso só podia ser um sonho engraçado que ele logo acordaria.
-Ok- disse ele com sarcasmo- , a minha alma é sua se eu voltar a enxergar. Então como vai ser, você vai tocar com sua varinha de condon na minha cabeça, jogara um pó mágico nos meus olhos para eu voltar a enxergar, ou o que? – Drake não conseguia se controlar suas risadas.
-Não, será mais simples que tudo isso; você só tem que morder a maçã.Mas você tem certeza que é isso que você quer?
-Morder a maçã? – ele perguntou ironicamente- Se eu soubesse já teria feito isso antes, e é claro que eu quero voltar a enxergar! – exclamou Drake.
Depois disso, Drake percebeu que estava sozinho na casa achando que estivera realmente sonhando. Então mordeu a maçã e ficou sentado até pegar no sono.
Quando Drake acordou já era segunda feira.Ele sentou-se na cama, e aos poucos abriu os olhos.
-Oh meu Deus. Como pode ser, eu estou enxergando! – Drake nunca havia ficado tão feliz- Obrigada! – ele olhou para o céu e agradeceu.
Tomou um longo banho, comeu e foi direto para o trabalho. Chegou todo feliz e animado com a novidade.
O primeiro que ficou sabendo foi seu amigo, Ricardo, que trabalhava na sala ao lado.
-Não acredito nisso! – Ricardo estava boquiaberto.
-Pois acredite meu amigo, eu estou enxergando, talvez até melhor que você. –Os dois riram e ficaram conversando por alguns minutos até que Drake começa a ver coisas estranhas. Era seu amigo, estava morrendo sendo esfaqueado; só não sabia por quem.
-O que foi Drake, você ficou pálido de repente – o amigou percebeu que algo tinha acontecido.
-Não foi nada, só estou feliz. – ele mentiu, pois é claro que aquela visão não era verdadeira.
O dia de trabalho foi longo e cansativo, Drake teve de contar varias vezes como voltou a enxergar. Às 19:40 ele voltou para sua casa, onde chegou tomou um banho, jantou e foi se deitar. No outro dia foi para o trabalho logo na entrada foi recebido com uma trágica noticia, seu amigo fora assassinado na ultima noite.
- O que? Mas como ele morreu? – Drake estava em estado de choque, seu melhor amigo havia morrido.
-Isso mesmo, ao que parece alguém entrou na dele casa e o esfaqueou deixando o cara em pedacinhos.
Aquela imagem que Drake tinha visto voltara a aparecer no mesmo instante, seu melhor amigo sendo esfaqueado, sangue por todos os lados. Horrível!
Uma semana se passou e Drake e ainda sentia a dor da perda de seu amigo, aparentemente tudo estava normal até o momento em que ele pega o jornal e olha a manchete do dia:
“Antony Sales ainda esta foragido, ele é acusado de estuprar crianças e adolescente há mais de sete anos. Aconselhamos aos pais não deixarem as crianças passarem muito tempo sozinhas, qualquer descuido é um ponto positivo para ele.”
Quando ele vê a foto do foragido sente arrepios tomarem conta do seu corpo; ele sabe que esta tendo uma visão. Seus olhos se estalam e seu mente fica clara. Ele estava vendo esse foragido sendo morto por varias pessoas, com facas,armas de fogo, inchadas e outros meios não identificados por Drake. Naquele momento ele entrou em estado de choque, da ultima vez que teve uma visão ela aconteceu. Mas ele não tinha certeza se dessa vez a visão se tornaria real e o pior, ele não sabia se deveria avisar as autoridades.
Drake voltou para a casa naquele dia, e passou a tarde refletindo sobre o assunto. Decidiu não comunicar a policia por três motivos:
1. Ele poderia ser tachado como louco se a visão não acontecesse;
2. Já que o Antony era um estuprador então ele merecia a morte;
3. Se a visão acontecesse a mídia cairia em cima dele, e seus dias de normalidade se acabariam.
Sua noite não foi tão tranqüila quanto ele imaginou que seria. A madrugada toda teve sonhos onde pessoas eram massacradas, aniquiladas. Seus corpos estavam no chão mutilados cheios de sangue; e só ele estava vivo. Mas de repente tudo ficava escuro e ele acordara.
Levantou da cama pingando suor pelo rosto. Sua camisa estava encharcada, assim como a chuva fazia com a rua la fora. Um temporal marcou aquela noite, pois neste mesmo dia Antony fora assassinado sem vestígios que entregasse o assassino.
Era sábado e Drake não precisava trabalhar. Ficou o dia todo em casa vendo TV onde só se passaram terríveis noticias. Todo esse tédio de ficar em casa acabou-o fazendo adormecer outra vez. Seus sonhos começaram outra vez. Ele estava em um campo cheio de pessoas, era um lindo dia, até que o tempo se fecha e essas pessoas começam a morrer misteriosamente. Um garoto que estava ao seu lado caio o chão gritando de dor:
-Por favor, me ajude. Faça parar! – Drake não entendia o que o menino tinha. –Meus olhos queimam, minha mente esta louca. – Nesse instante Drake sentia tudo o que o menino sentia, as dores na cabeça, os olhos queimarem, a febre constante. E as pessoas continuavam a cair no chão e morrer. Já era o bastante pra ele, pois não agüentava mais ver tanta morte, tanto sangue e sofrimento então saiu correndo pela rua ,que estava deserta, sem rumo algum.Encostou em poste e começou a chorar. Até que alguém estava se aproximando dele, era um homem que parecia estar embriagado. Mas quando esse homem se aproximou de Drake ele percebeu que o sujeito não estava bêbado mas estava com uma feição de louco, sua boca estava cheia de sangue e seus olhos eram escuros como nunca havia visto antes. E em um instante o homem o atacou, o pegou pelo braço querendo morde-lo. Seria um canibal? Não na cidade grande pensou Drake. O homem tentou morde-lo, era muito forte mas Drake era mais, seu instinto de sobrevivência era maior. Ele percebeu isso quando quebrou o pescoço do sujeito com as próprias mãos.
-Ai meu Deus, o que eu fiz? – Ele estava quase arrependido. Só não se arrependeu por completo porque matou para sobreviver.Quando se deu conta ao seu redor estava cheio de pessoas como o outro homem, se pareciam com zumbis.Ele caiu no chão que estava cheio de cacos de vidro, sabia que não podia sobreviver então fechou os olhos e novas visões apareceram. Um senhor calvo, com uma estatura mediana estava andando na rua enquanto as pessoas matavam umas as outras, Drake corria e só conseguia ver gente morta. Pessoas enforcadas em postes de luz, mulheres se atirando dos prédios mais altos da cidade, homens cortando o pescoço. Então ele decidiu acabar de uma vez com essas visões do inferno, pegou um pedaço do caco de vidro e cortou os olhos.
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – ele deu um grito de dor, que o quarteirão todo poderia ouvir. Agora Drake voltara a ser um cego, e dessa vez por completo; mas ele estava feliz pois não via mais nada. Não tinha visões e nem pessoas se matando.
Ele caiu ao chão sentindo o gosto do sangue escorrer por sua boca. E voltara a si. Todo esse tempo estava sonhando. Quando acordo percebeu que estava deitado em sua cama, e ainda podia ver. Ouviu um ruído na cozinha e foi ver o que havia. Quando chegou lá o mesmo homem de seus sonho o aguradava.
-Como você entrou aqui? –Drake estava irritado.
-Não enterrasse, eu vim buscar o que é meu.
-Você não tem nada aqui. Vá embora antes que eu chame a policia.
-Na verdade eu tenho. Você desistiu de querer enxergar e agora eu quero a sua alma, esse foi o nosso acordo.
Drake riu.
-Sei a minha alma. – ele falava ironicamente. – Serio cara, saia da minha casa agora!
-Não sem o que eu quero.
Drake se aproximou da gaveta e pegou uma faca que estava dentro dela e cravou-a no coração do homem. Não adiantou nada, o individuo ainda estava de pé e não sangrava.
-Por favor, vamos logo. Pare de brincar.
-Eu não vou a lugar algum.
-Eu tenho certeza que você irá. – O homem deu um sorriso mistério e sumiu.
Drake achou estranho tudo aquilo. Na rua parecia que estava havendo brigas, aparamente eram brigas e Drake não foi checar o que era realmente. Foi para o banheiro tomar um banho, quando abriu o chuveiro e a água começou a cair pelo seu corpo e ele ouviu a porta de sua casa cair e varias pessoas entraram. Elas eram iguais as de seus sonhos, com a boca cheia de sangue querendo carne, querendo come-lo. Não havia por onde fugir, ele estava cercado e antes de dar seu ultimo suspiro de vida o homem volta a aparecer e diz:
-Eu sempre tenho o que eu quero. –ele olha para Drake com uma expressão irônica. Volta a olhar para os “zumbis” e diz: -Agora, acabem com ele.
Todas aquelas pessoas caíram em cima de Drake, que estava sendo mordido no braço, no pescoço e nas pernas. Mas antes de tudo isso, ele pegou sua faca mais afiada e cortou os olhos. Já estava louco e agora cego outra vez. Ele sentia sua carne sendo arrancada de seu corpo, gritava de dor. Suas visões, seus pesadelos, sua vida. Tudo acabara ali naquele momento. Seu corpo estava sendo devorado por pessoas sobrenaturais e sua alma já não mais o pertencia; agora o diabo era seu dono, seu pai, seu tutor e Drake sofreria eternamente no inferno, por ter deixado a tentação tomar conta do seu coração.
