segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mercado Negro

Vila Negra é uma pacata cidadezinha onde todas as pessoas se conhecem. Entre elas estão Filipe e sua namorada Angélica que se conheceram no Colégio Francisco Beltrão. Há uma semana Filipe não vê Angélica e está muito preocupado com ela, pois nem suas amigas sabem de sua localização.
Por onde ele passava perguntava a respeito de sua namorada. Na semana anterior uma nova garota entrou no colégio, Vivian era seu nome.
-Posso me sentar aqui?- apontando para a carteira ao lado de Filipe.
-Ah não sei, bem, é que geralmente minha namorada senta aqui... Ah tudo bem, ela não virá hoje.
A garota se sentou e eles passaram a aula toda conversando. Ela era de cidade grande, disse que seu pai veio a trabalho, era um renomado psiquiatra.
Logo em seguida o sinal soou e todos se retiraram da sala, essa noite Filipe iria até a casa de Angélica para saber o que estava acontecendo.
Chegando à residência dos Mercurys sua recepção não foi muito bem aceita, os pais de Angélica não queriam que ele soubesse o que estava acontecendo, mas de tanto insistir Filipe entrou na casa e subiu até o quarto de sua namorada.
-Angélica! – ele gritou desesperado. Ela estava deitada com as luzes do quarto todas apagadas. Seu rosto estava pálido.
-O que você tem?
-Ela não vai te responder. – disse o pai dela encostado-se à porta.
-E por quê? O que ela tem?
-É alguma coisa na mente dela, não sabemos ao certo, mas se parece com a síndrome do pânico.
Filipe se lembrou que o pai da sua nova colega era psiquiatra e poderia ser ele o médico da Angélica.
-Não se preocupe Filipe, chamamos um médio ótimo que curará minha filha.
Filipe voltou para casa feliz e tenso por saber da situação de sua namorada. No dia seguinte Vivian sentou-se ao seu lado novamente dando-lhe apenas um sorriso. Menos de trinta minutos de aula e o professor é interrompido, abrindo a porta Angélica estava entrando. Aproximou-se de Vivian e disse:
-Sai daí agora!
-Não, eu cheguei aqui primeiro. E também este lugar é da namorada do Filipe e ela não está aqui hoje.
-Aé? Pois saiba que eu sou a namorada dele. – Vivian ficou vermelha de vergonha pegou suas coisas e se levantou. - É bom mesmo garota. – sussurrou Angélica.
-O que foi que você disse?
-Isso mesmo que você ouviu!
Angélica deu início a uma briga dando um tapa no rosto de Vivian. As duas começaram a puxar os cabelos louros e a se arranharem completamente. Vivian arranhou o rosto da Angélica tirando sangue, o que a deixou muito nervosa. Nessa altura da briga as duas já estavam rolando ao chão, Filipe estava boquiaberto sem saber o que fazer até que Angélica começa a tremer e a ter convulsões. Vivian saiu de cima dela o mais rápido possível gritando histericamente junto à classe.
-Angélica, Angélica! – grita Filipe, mas de nada adianta.
O corpo dela ainda se contorce tomado por calafrios gigantes.
Algumas horas se passaram e Angélica estava em casa repousando, assim que abriu os olhos pode ver seu namorado ao seu lado.
-O que foi aquilo no colégio?- perguntou Filipe irritado
-Oi pra você também. O que foi aquilo o que?
-Não seja sínica Angélica, porque você precisou brigar com a Vivian?... E depois aquilo que você fez se contorcendo toda no chão. Nós ficamos muito preocupados, até a coitada da garota ficou com medo de ter te matado.
-Eu realmente não sei do que você ta falando, eu só tive uma dor de cabeça e vim para casa. - ela parecia mesmo dizer a verdade, dentro da cabeça de Filipe um turbilhão de questionamentos o deixavam louco, mas, ele preferiu guardar suas indagações para si.
-Serio mesmo que você não se lembra dessa manhã?
-Eu me lembro... Fui para o colégio sentei ao seu lado como de costume, assisti meia hora de aula ai comecei a passar mal, vim embora e dormi. Mas agora já estou melhor.
Filipe ficou confuso mesmo sabendo que não estava louco. Depois de sair da casa da Angélica ligou para um colega e perguntou se ele se lembrava do ocorrido, porém o colega dizia não saber da briga só que uma garota entrou no colégio, mas que ela faltou nessa manhã.
Nesse mesmo dia Filipe foi até a casa de Vivian onde conheceu seu pai, o famoso psiquiatra. Os três se sentaram na sala de visitas e começaram a conversar sobre Angélica; ela estava muito doente e que nessas condições era melhor que Filipe se distanciasse dela. Mas ele a amava demais para abandoná-la nesse momento. O celular de Filipe toca, é a Angélica:
-Preciso de você agora!- ela desliga o telefone e ele sai rapidamente da casa.
Chegou até a casa dela, subiu as escadas e entrou no quarto. Ela estava com uma faca na mão chorando muito, queria matar alguém que ela estava vendo.
-Sai fica longe de mim. Eu vou te matar seu desgraçado. – ela ergueu a faca e foi em direção ao espelho, começou a bater nele como se alguém estivesse ali mesmo. Filipe a agarrou e tentou controlá-la, mas ela estava muito irritada. Com um pequeno descuido ela passa a faca pelo braço dele e acaba ferindo-o, depois ela levanta e começa a andar pelo quarto murmurando coisas sobre morte, ou algo assim. Ele tenta mais uma vez acalmá-la, mas ela o ignorava, sem esperanças ele senta na cama e fecha os olhos para ver se é só um sonho ou se sua namorada esta ficando louca mesmo. Por alguns instantes tudo se acalma até que um estalo ecoa dentro dos seus ouvidos, ele passa a mão sobre a nuca e encontra sangue.
-O que você fez?- as únicas palavras que ele conseguiu dizer antes de desmaiar.
Seu subconsciente estava desativado, seus olhos fechados e sua cabeça sangrando. Algum tempo depois Filipe acordou e descobriu que já não estava mais na casa da Angélica; ele parecia conhecer aquele lugar, aquela mobília rústica do século passado o fazia lembrar que já esteve ali. Quando abre os olhos encontra Vivian em sua frente, as palavras não saem direito e os seus sentidos ainda não estão apurados.
-Shii, calminha amigo... Você vai ficar melhor logo, logo! – Vivian aparentemente, estava tentando fazê-lo poupar fôlego. Até que ela tira de trás das costas uma fita isolante e tapa a boca dele, agora com a respiração ofegante ele começa a se debater até que o pai dela injeta anestesia pura em sua jugular. Ele desmaia novamente.
Agora acordado está sobre uma mesa de metal. Ele avista vários instrumentos necessários para que se possa realizar uma cirurgia. Logo em seguida enxerga o pai de Vivian.
-Por que estou aqui? Onde está a minha namorada?
-Você está aqui porque vamos roubar umas peças... – o “médico” olha para a filha dando um sorriso sínico.
-Roubar o que? Vivian por favor, tire-me daqui! – ele estava a ponto de chorar implorando pela liberdade sem saber o que estava acontecendo. – Só me diz se a Angélica está bem, eu quero vê-la, por favor!
-A Angélica está ótima, sempre esteve. – disse Vivian sorrindo enquanto seu pai procurava por um bisturi.
-Como assim? Ela estava doente, eu me lembro disso...
-Acontece seu idiota é que ela faltou um dia no colégio, o que me ajudou a dominar sua mente injetando algumas drogas e contando histórias que o convencesse a sempre estar comigo. Eu e meu pai trabalhamos no mercado negro, vendemos órgãos humanos... E agora vamos... Pegar os seus.
O “médico” pega o bisturi e perfura o peito de Filipe, ele grita de dor e implora pela vida enquanto Vivian assiste friamente o seu sofrimento. De nada adianta, pois o cirurgião louco desce aos poucos o bisturi sobre o peito dele. Depois de cortar verticalmente ele passa a cortar na horizontal, abrindo o peito ao meio. Os cortes sangravam muito e seu coração acelerava cada vez mais. Filipe tentava bolar um plano antes do próximo corte, suas mãos não estavam amarradas então provavelmente seria fácil escapar, entretanto, como o sangue estava saindo aos montes ele estava fraco e sentia muitas vertigens. O pai de Vivian virou as costas para limpar o bisturi e pegar outro objeto, Filipe pensou que seria à hora certa para fugir, mas foi surpreendido por Vivian e uma vertigem que o fez bater a cabeça na mesa. Seus olhos estavam se fechando outra vez, ele precisava de mais forças para fugir.
Enquanto Vivian preparava um balde com gelo (provavelmente para os órgãos), Filipe levantou-se de vagar, caiu no chão, mas se recuperou rápido, avistou um gancho de decapitação e o pegou. Correu pela porta a frente e deu de cara com o médico.
-Ora, ora, ora... Vejamos se não é o nosso doador. - aquele sorriso maléfico tomando conta de seu rosto.
-Por favor, eu só quero ir embora. Deixe-me sair e ninguém saberá de nada!
-Claro, pode ir! – sua expressão mudou para uma incógnita. Mas é claro que era mentira, quando Filipe correu o “médico” o puxou pelos cabelos e lhe deu um grande soco no rosto deixando Filipe gemendo de dor no chão.
-Mas você é burro mesmo não é garoto?! Acha mesmo que eu vou deixar você sair daqui com vida?
O “doutor” deu-lhe um chute na boca quebrando um dente. Em seguida pegou-o pelo braço e o levantou. Sem forças, Filipe ficou apoiado no “médico” e sem vacilar tirou o gancho de dentro da calça e meteu-lhe direto no queixo do louco. Filipe caiu de novo no chão enquanto o pai de Vivian conhecia aos poucos o peso da morte. Seu queixo tinha quebrado e a ponta do gancho atravessado sua boca. Agora era só se arrastar até a porta e gritar por socorro antes que os cortes aumentassem e o matassem.
-Aonde você pensa que vai? Seu desgraçado acho que matou meu pai! – ela ria e chorava ao mesmo tempo.
-Eu só quero ir embora, por favor...
-E sabe o que eu quero? Arrancar o seu coração e dar para os cachorros comerem! – ela gritou enfurecida e foi em direção ao Filipe com uma faca na mão. Agora que estava em pé, ficou parado deixando ela o atacar. Ela cravou a faca no ombro dele e ele rasgou o peito dela com o bisturi. Vivian caiu com Filipe em cima de seu corpo, que continuou a cortar a carne dela . Fez vários rasgos na barriga, depois no rosto e por fim mutilou o corpo. Era isso ou ela ainda poderia o matar.
Sabendo que todos estavam mortos ele se arrastou para fora da casa, pois não aguentava ficar em pé, e foi de encontro a rua implorando por ajuda. Chegou ao meio da estrada e um carro veio em sua direção.
Biin... Foi o último som que ele ouviu.
***
Meses se passaram, Filipe estava em coma. A luz do ambiente queimava seus olhos, distorcendo sua visão. Perceberá que duas pessoas estavam ali, um homem e uma mulher.
-Pronto para a cirurgia? – disse a mulher. O médico se aproxima e corta o seu pescoço da enfermeira deixando o sangue jorrar pelo quarto.
-Mas o que é isso? – pergunta assustado.
-Isso, seu idiota, é o fim da cirurgia!
Quando Filipe tem sua visão claramente de novo, o “médico” passa o bisturi pelo seu peito ainda machucado, abrindo ele por completo, retirando os órgãos de dentro do corpo e pondo um fim em sua vida de psicose. 


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Esquecido pelo tempo



Meia noite marca o relógio preso ao meu pulso. Impossível não notar as marcas.
Balas e facas caídas ao chão, alguns cortes que já mais cicatrizarão.
Ferimentos expostos sobre a pele, lembranças de um homem angustiado traído pelo próprio coração.

Meia noite marca o relógio preso ao meu pulso. Difícil é disfarçar a agonia sentida pela mente.
Sangue e lágrimas cobrem o chão, mas não se misturam como óleo e água.
Um homem em pé de mãos atadas, com o corpo mole segurando uma adaga.

Meia noite marca o relógio preso ao meu pulso. A vida para e não recomeça.
Taças e copos atirados ao chão. Pequenos pedaços de vidro que perfuram meu coração.
Feroz como um tigre e frágil como o algodão, memórias de um homem desenganado e sem compaixão.